Mundialmente, o mês de abril é reconhecido como o mês de conscientização sobre o autismo. O seu símbolo, criado em 1963, é um quebra-cabeça. A ideia é representar as dificuldades de compreensão das pessoas com autismo. A fita com o quebra-cabeça tem diferentes cores e formas, e lembram a diversidade das pessoas com a doença. Ela é brilhante, sinalizando que, com maior conscientização, intervenção precoce e tratamentos adequados, os autistas conseguem ter qualidade de vida. 


Dificuldade no contato visual, atraso na fala e não responder a chamados podem ser os primeiros sinais do Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou autismo, que afeta o desenvolvimento neuropsicomotor e é um dos transtornos mais prevalentes na infância. A falta de acompanhamento e tratamento adequado pode causar condições que limitam habilidades, interações sociais, comportamentos, a fala e comunicação não-verbal. 


Segundo dados do estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, existe hoje um caso de autismo a cada 110 pessoas. Dessa forma, estima-se que o Brasil, com seus 200 milhões de habitantes, possua cerca de 2 milhões de autistas. A pesquisa aponta ainda, que o número de meninos com autismo é quatro vezes maior que o de meninas. Na pesquisa atual, há o resultado de que existem mais meninos autistas do que meninas. Ainda de acordo com CDC, ainda não há pesquisas concretas que expliquem esse predomínio no sexo masculino.


Autismo: diferenças e desafios 


Indivíduos com autismo enfrentam problemas no desenvolvimento da linguagem, nos processos de comunicação, na interação e comportamento social. No entanto, quando falamos de um “espectro”, falamos de uma ampla variação. Cada pessoa que recebe um diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista é única. Importante ressaltar que o autismo se manifesta de várias maneiras e nunca é exatamente igual de uma pessoa para outra. A descoberta desta condição pode ser percebida nos primeiros meses de vida, foi o que aconteceu com o casal Leonardo Cabral e Késia Almeida,  pais do Dom Kael de dois anos de idade. Pais de outras crianças, os dois já tinham experiência em acompanhar o desenvolvimento dos filhos, mas começaram a notar algumas particularidades do Dom com apenas quatro meses de vida. “Durante a amamentação comecei a notar que o Dom não mantinha contato visual, não respondia a estímulos como bater palminhas e se mantinha sempre com o pescoço virado para direita. Pensamos que poderia ser algum problema na audição, mas fizemos alguns testes e logo essa hipótese foi descartada”, explicou a funcionária pública,  Késia Almeida em entrevista para a Casembrapa.


Ter um filho diagnosticado com o Transtorno do Espectro Autista - TEA, não é fácil, e muitos pais demoram para entender a condição dos filhos. Nesta fase, os pais têm que fazer um processo de adaptação psicológica e buscar ajuda profissional. Para a Analista de Gestão de Pessoas da Casembrapa, Márcia Freitas, o diagnóstico de autismo do seu filho Marcos Vinícius, hoje com 5  anos,  só veio aos dois anos de vida. Para ela,  a sensação que veio com a identificação do transtorno foi de um frio na espinha. “Já havia uma desconfiança de que algo estava errado, mas, ao mesmo tempo, tinha aquele ingênuo pensamento de que essas coisas só acontecem com os outros. Entender que eu era vulnerável e, portanto, sujeita a essa essa situação, doeu demais, chorei muito, uma dor como se fosse um luto”, desabafou. 


Confrontadas com estas situações as famílias têm de se reorganizar, recriando novas expectativas e fazendo surgir novas realidades. A confirmação do autismo do Dom foi aos nove meses de vida e foi bem recebida pelos pais. “Quando soubemos que o Dom realmente tinha o TEA foi até tranquilo para a gente, o que mais pesou  foi lidar com as dificuldades e falta de informação dos familiares e amigos. Assim como outras pessoas com autismo, o Dom vive em um mundo só dele,  são particularidades que nem todos conseguem entender”,  pontuou o técnico de instalação de rede,  Leonardo Cabral.


Já para a Márcia Freitas entender as limitações e respeitar  as  diferenças do seu filho Marcos Vinícius, foi algo libertador. “Ficou clara para mim a ideia de que é injusto idealizar um filho “perfeito” ou que atenda às nossas expectativas. Aquilo tudo estava sim acontecendo comigo e era necessário encarar com firmeza”, explicou.


Autistas podem ter dificuldade em interpretar sinais não verbais transmitidos por outras pessoas, em bater papo ou em compreender a linguagem corporal. Por outro lado, pessoas com autismo muitas vezes superam os outros em tarefas auditivas e visuais, e também são melhores em testes de inteligência não verbais. Pessoas com autismo têm, frequentemente, memórias excepcionais, e podem se lembrar de informações que leram semanas atrás.


Como identificar o grau de autismo?


O transtorno de autismo afeta o sistema nervoso. O alcance e a gravidade dos sintomas podem variar amplamente. Os sintomas mais comuns incluem dificuldade de comunicação, dificuldade com interações sociais, interesses obsessivos e comportamentos repetitivos. O critério de diagnóstico se baseia na funcionalidade, ou seja, na capacidade de um indivíduo realizar atividades simples.



  • Baixa funcionalidade: mal interagem. Em geral, vivem repetindo movimentos e apresentam retardo mental, o que exige tratamento pela vida toda.



  • Média funcionalidade: são os autistas clássicos. Têm dificuldade de se comunicar, não olham nos olhos dos outros e repetem comportamentos.



  • Alta funcionalidade: também chamados de aspies, têm os mesmos prejuízos, mas em grau leve. Conseguem estudar, trabalhar, formar família.



  • Síndrome de savant: cerca de 10% pertencem a essa categoria marcada por déficits psicológicos. Conhecidas também como “ilhas de genialidade” e “prodígios”, esses talentos estão sempre ligados a uma memória extraordinária, porém com pouca compreensão do que está sendo descrito. 


Causas e Fatores de Risco


Até o presente momento não existem causas conclusivas para o autismo. Alguns estudos e pesquisas levantam indícios de que o transtorno possa estar relacionado com alterações genéticas. Com o avanço da tecnologia e genética, neuropsicólogos e neurocientistas associam o autismo com mutações genéticas, doenças metabólicas e outros transtornos do desenvolvimento. Mesmo as causas do autismo não sendo efetivamente conhecidas,  cientistas e pesquisadores afirmam existirem fatores de risco:



  • Gênero: Crianças do sexo masculino são mais propensos a terem Autismo. Estima-se que para cada 8 meninos autistas, 1 menina também é.

  • Genética: Cerca de 20% das crianças que possuem Autismo também possuem outras condições genéticas, como Síndrome de Down, Síndrome do X frágil, esclerose tuberosa, entre outras.

  • Pais mais velhos: A ciência diz que, quanto mais velho alguém tiver um filho, mais riscos as crianças têm de desenvolver algum tipo de problema. E com o Autismo não é diferente.

  • Parentes autistas: Caso a família já possua histórico de Autismo, as chances de alguém também possuir são maiores.


Quanto mais precoce é realizado o diagnóstico e iniciado o tratamento adequado, melhor é a qualidade de vida da criança autista.


Os indivíduos com autismo podem possuir a  habilidade de concentrar-se fortemente sobre uma só coisa e isso lhes permite aprofundar-se muito naquilo que desperta seu interesse. Alguns indivíduos se tornam pianistas ou cantores incríveis, graças ao fato de possuírem uma capacidade espantosa de decorar canções e notas musicais. Existe muita desinformação sobre o autismo, o que traz como consequência o desenvolvimento tardio de muitas crianças com essa condição. Para a mãe de Dom Kael, o filho chegou para mudar a visão que ela e o marido tinham sobre a vida. “Não é a pessoa com autismo que tem que mudar e se adaptar ao mundo, é o mundo que deve se transformar para incluir as pessoas com essa e outras condições, para que nenhum transtorno ou deficiência seja motivo de exclusão. E que todo lugar seja amplamente ocupado por pessoas de diferentes particularidades”,  acrescenta  Kesia Almeida.


A Analista de Gestão de Pessoas, Márcia Freitas aconselha os pais que têm ou possam ter filhos com TEA. “O diagnóstico de autismo não é uma sentença de morte. Vivam o período de luto, mas tenham certeza que essa criança tem muito a lhes ensinar. Desconstrua todas as suas expectativas e viva cada dia dessa nova jornada. Ver quanta evolução que o Marcos teve, enche meu coração de orgulho e alegria, por isso sempre comemoro cada conquista do meu príncipe”, vibrou. 


Hoje com 5 anos o  Marcos já está com a fala bem desenvolvida,  gosta de ler as letras do alfabeto, já consegue contar de 1 a 200 e come sozinho. "Para alguns pode parecer pouca coisa, mas para nossa família são grandes conquistas", afirma Márcia.  “O Marcos desenvolveu a linguagem oral, fala tudo mas algumas palavras ele ainda tem algumas dificuldades mas tudo isso me deixa muito orgulhosa”, declarou. 


Com o estímulo adequado e ajuda de uma equipe multidisciplinar, uma criança com autismo pode conseguir atingir um ótimo desenvolvimento. Como equipe multidisciplinar entende-se um fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, neurologista, psicólogo pediatra e o apoio da família.


Uma criança com autismo pode ocupar qualquer lugar!