Uma amiga torceu o tornozelo e procurou a emergência de um hospital. O médico plantonista examinou, disse que não havia sinal de fratura, mas mesmo assim pediu um raio X “por garantia”. Nada foi encontrado. Outra chegou com uma quadro clássico de sinusite e bimba: ganhou uma tomografia dos seios da face. Quem pagou por isso? O plano de saúde, e, claro, o consumidor.
São pequenos exemplos de desperdício na saúde que todos que já vivenciaram dentro de um hospital privado. O desperdício, que chega a comer até 20% dos recursos em saúde, somado ao crescente custo dos cuidados (com novas tecnologias, envelhecimento e crescente onda de judicialização), torna essa conta cada vez mais difícil de ser fechada.
Mas parece que o tema não preocupa muito os principais atores dessa cadeia, ou seja, nós, usuários de planos de saúde. Quem tem um plano pensa que a carteirinha é um cheque em branco. Vai ao médico, assina e pronto. Vai ao laboratório, assina e pronto. Vai ao hospital, assina e pronto. Acham que quanto mais pedidos de exames e mais medicamentos prescritos, melhor é o médico.
As pessoas esquecem que, no fim das contas, são elas que pagarão a conta, no sentido literal (com seu dinheiro) e figurado (com sua saúde, já que há riscos em exames e medicamentos desnecessários), do desperdício e da ineficiência que imperam nos sistemas de saúde. Também são elas que pagarão pela crescente judicialização do setor, já que os convênios vão repassar os custos no valor da mensalidade.
Fragmento do texto de Cláudia Collucci – Folha de S.Paulo
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